16. Deixem o Chiquinho ser o Chiquinho
Já começa a parecer perseguição, mas é irritante ver a tentativa de transformar um jogador naquilo que não é. Se Zidane deu uma cabeçada na Final do Mundial de 2006, imagino o que estaria a fazer agora se soubesse destas comparações. E o pior é que até Schmidt já entrou na onda, naquela que é provavelmente a primeira falha comunicacional do treinador alemão em Portugal.
Milhões de benfiquistas ficaram viúvos de Enzo. A saída do argentino foi mal gerida, mas sou da opinião que o clube pouco ou nada podia fazer. Enzo também não parecia ser propriamente grande flor que se cheirasse e o Benfica não quis fazer o que a Fiorentina, por exemplo, fez com Ambrabat. “Não sais” e pronto. Mas o Barcelona também não chegou a Itália com o camião de notas que o Chelsea largou em Lisboa. Tudo bem.
Aí emergiu Chiquinho. Nada contra o jogador em termos pessoais. Aliás, na ótica de adepto, prefiro um Chico a um Enzinho: é melhor ter um gajo que dá tudo em campo do que outro que sabe perfeitamente que está a meio da ponte para outro lado onde a carteira da LV vai ficar mas recheada. O problema são as comparações que são feitas.
Há uma entrevista muito interessante do Pepa ao Expresso onde fala da sua má gestão de início de carreira e das expetativas furadas que foram criadas ao início. “Pensavam que estava ali uma bomba…”, disse. E estava, mas de pólvora seca. Com Ivan Cavaleiro também tenho um trauma.
Ainda hoje tenho pesadelos com esta capa, e quem priva comigo sabe as vezes que a refiro. Mais uma vez, Chiquinho, Ivan ou Pepa são os menos culpados. Existe é sempre uma tentativa desmedida de fazer dos jogadores aquilo que não são. E o pior é quando os adeptos não têm dois dedos de testar para perceber que isto é meio encomendado.
E não é exclusivo do vermelho, verde ou azul. Passa-se em todos os clubes com algum poder instaurado nos meios de comunicação social. E, no meio de críticas a ‘A Bola’, devo mesmo confessar que este, dos três desportivos, nem me parece ser o mais instrumentalizado por um clube grande.
Quanto ao Chiquinho: que continue o bom trabalho, mas parece-me natural que perca o lugar no ‘onze’ a curto prazo. Ausrnes vai acabar no meio e entrará um Neres ou um Guedes da vida para a titularidade. No entanto, o Chico muito provavelmente vai ser campeão no seu clube do coração, a ter uma utilização (e rendimento) bem acima do esperadoe com um salário fantástico, dada a miséria que se ganha em Portugal: olha, também gostava.
Mas, no fundo, o que gostava mesmo é que se parassem com as comparações absurdas e que deixassem o Chiquinho ser apenas o Chiquinho, com tudo o que de bom e de mau tem para dar. Porque nem para o jogador é bom.
Quarta-feira há mais.
Pedro Guarda